Morador do Jardim Romano poderá ser o homem mais velho do Mundo


Mário Alberto de Deus,  125 anos de sabedoria. Sentado no seu velho banquinho de madeira, Mário, conduziu a entrevista entre risos nervosos e frases desconexas. A parir dai o que vimos foi uma realidade de abandono e descaso do poder público com os nossos idosos. Ainda trás na lembrança os tempos da lavoura em Minas Gerais, onde nasceu na cidade de Acaaiaca. Quando tinha 10 anos de idade, seu pai decidiu vir para São Paulo, no ano de 1897. Mas Augustinho Antônio de Deus, logo desistiu da dura vida em comparação a vida que levava no seu sitio, e decidiu voltar. Deixando Mário, que na época sonhava em melhorar de vida para ajudar a família. Viveu muito tempo na Vila Mariana, período em que São Paulo, não passava de uma menina inocente, se é que vale o comparativo. Em um rápido momento de reflexão diz: “As pessoas ainda se locomoviam de charrete, não tinha televisão, muito menos o conforto de hoje em dia. Eu ajudei a construir esta cidade. Fui ajudante de pedreiro e dos bons, ou melhor, faço todos os tipos de trabalhos, desde pintor, azulejista, encanador. Ainda hoje, trabalho, não fujo, se me chamarem eu vou correndo.” Sérgio da Silva, vizinho, conta que Mário caminha pelo bairro todos os dias, e quando alguém resolve lhe oferecer uma carona, ele fica irritado. “Gosta mesmo é de andar a pé. Sorridente diz que Seu Mário é bravo. “Quando lhe oferecem alguma ajuda, ele logo diz que não precisa de nada. Ele é um homem muito bom, vira e mexe dá dinheiro para as crianças da redondeza, mesmo vivendo uma vida tão sofrida. Foi com muita dificuldade que resolveu nos mostrar o seu RG. Foram exatos uma hora de relógio, até que de um impulso levantou do banquinho, e trouxe o que pra ele é a maior prova da sua longitude. E ali na nossa frente estava a comprovação que tanto ansiávamos. Um ano antes da libertação dos escravos, nascia no dia 15 de dezembro de 1887, aquele que supostamente é o homem mais velho do mundo. 


Mansão versos Casebre
Mesmo trabalhando como pedreiro há mais de um século, construindo mansões, pelos bairros nobres de São Paulo. Todo este labor não foi o suficiente para que conquistasse um lar digno. Seu barraco de apenas um compartimento é a representação do abandono. É ali que divide os seus dias, em companhia dos mais variados tipos de insetos e ratos, além das inúmeras goteiras que caem das telhas quebradas. Aquilo que chama de casa não passa de um espaço fétido e mal cheiroso, que nenhum ser humano merece habitar. “Eu mesmo tenho nojo deste lugar, faz 50 anos que moro aqui, os donos cansaram de brigar pelo terreno e foram embora. Acho até que já morreram e eu fiquei aqui” 

“Todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais que os distinguem entre si, merecem igual respeito, como únicos entes no mundo capazes de amar, descobrir a verdade e criar a beleza” Prof. Fábio Konder Comparato Em um momento de descontração, nos conta que teve 11 namoradas, mas nunca quis casar. Diz saudoso que teve seis irmãos, mas todos morreram. Quando o assunto é morte, revela confiante: “Não tenho medo da morte, quando ela vier veio. Não quero ficar chamando, tenho muito amor à vida, gosto muito de viver. Não tenho doença nenhuma, não lembro, quando fui ao médico. Quando quebrei a perna, o tempo foi o encarregado de curar”. Naqueles idos de 1887 não existia televisão, e hoje Mário diz que vive muito bem, sem ela. Mesmo quando digo em tom de brincadeira: “O Sr. não ficou contente de contar a sua história na TV ( Programa Balanço Geral da Rede Record, no dia 10 de março esteve na sua casa). “Não resolvem nada, depois eles vão embora e tudo volta a ser como antes.” A produção do Programa, está fazendo uma minuciosa investigação para descobrir a veracidade das documentações que comprovam a sua idade. Além de estar no ar uma campanha em prol de um lar digno para Mário. Se for mesmo verdade, Sr Mário, um negro esguio morador do Jardim Romano, entrará no lugar do japonês Jiroemon Kimura, reconhecido pelo livro Guinness World Records, como a pessoa viva mais velha do mundo, com 115 anos. O recorde anterior pertencia ao dinamarquês Christian Mortensen, que morreu em 1998 aos 115 anos e 252 dias. 

Cláudia Canto,
jornalista e escritora