Mais de 36 mil crianças aguardam vagas nas creches da zona leste. Em toda cidade são mais de 114 mil
Uma das promessas da campanha eleitoral do prefeito Kassab em 2008 foi zerar o número de espera nas creches, porém a realidade é bem diferente.
Pesquisas realizadas recentemente pelo IBGE e pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo continuam a mostrar números preocupantes de crianças inscritas nas filas de espera por vagas nas creches municipais ou de entidades conveniadas. E a situação é ainda pior na Zona Leste de São Paulo, onde mais de 36 mil crianças se encontram nessa situação.
Quando observamos o problema em toda a cidade constatamos que para 200 mil alunos até 3 anos matriculados nas creches em toda a cidade há uma fila de espera por vagas de 114 mil vagas. Esse é o tamanho do problema chamado falta de creches, que em 2008 o então candidato a prefeito Gilberto Kassab prometeu durante a campanha eleitoral ZERAR o número de espera nas creches, porém há realidade é bem diferente.
O tamanho da fila tem aumentado significativamente nos últimos três anos, quase triplicando ou mantendo-se acima do dobro. A oscilação depende do período do ano. Em dezembro de 2008 havia 57.607 alunos buscando vagas em equipamentos de educação.
A falta de vagas atinge em diferentes graus os 96 distritos da Capital. Na Zona Sul que se concentram as localidades com os maiores problemas. O Grajaú é o líder geral da demanda. Lá, há 7.922 crianças matriculadas e 5.999 cadastradas esperando por abertura de vaga. Na Zona Leste, o bairro de Sapopemba é o primeiro da fila dentre os 33 distritos da região com 3.650 crianças fora das creches. No geral, o Sapopemba é o sétimo colocado. Ainda na Zona Leste, mas agregando os dados por subprefeituras, a situação é mais grave na região de São Mateus. Os seus três distritos – Iguatemi, São Rafael e São Mateus – juntos têm fila de espera de 6.555 crianças.
Bem na cola, logo em seguida, estão os dois distritos da Subprefeitura do Itaim Paulista com fila de 4.773 crianças. E não foi preciso muito esforço de nossa reportagem para encontrar mães aflitas por uma vaga nas creches da região, para ter condições de trabalhar e ajudar no orçamento da família.
Desde 2006, a Prefeitura é obrigada a disponibilizar em seu site eletrônico informações sobre matrículas e demandas, discriminando a cada trimestre os dados de todos distritos.
Entrevistamos algumas dessas mães que dependem de vagas em creches, como é o caso da auxiliar de costura, Maria de Lurdes, 38 anos, que disse: “nossa é uma humilhação muito grande ter que esperar tanto tempo por um direito nosso. Tenho três filhos: uma filha de (15), outro de (10) outra de (5), só minha filha mais velha está estudando, porque os outros dois estão aguardando vaga, ou seja, estão afastados da escola desde o início deste ano”. Lurdes ainda lamenta ter que deixá-los em casa (sozinhos) para poder trabalhar, “deixo a comida feita e vou trabalhar, porque preciso ajudar em casa, mas só Deus sabe como fica minha cabeça. Tenho medo de acidentes domésticos, mas meu marido e eu temos uma renda baixa e nem podemos pagar alguém para cuidar deles enquanto trabalhamos, isto é revoltante”.
No entanto, os dados oficiais não revelam a gravidade do problema, pois a demanda real por vagas em creches é ainda maior. Muitas pessoas ficam de fora desses levantamentos, pois não se cadastram nas listas de espera por vagas.
Embora não seja obrigatório matricular as crianças de até 3 anos, vagas nas creches é um direito previsto em uma lei que regula a Educação nacional conhecida por Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Segundo essa legislação é dever dos municípios, com a ajuda dos estados, garantir creches e pré-escolas públicas para todas as crianças.
Várias pesquisas mostram que os primeiros anos de vida são os mais importantes para o aprendizado. Mas pelo menos 30 % das mulheres brasileiras com filhos de 0 a 6 anos não conseguem vagas em creches e escolas públicas para seus filhos.