O SUS não respeita nem o bom velhinho

O “Hospital Amigo do Idoso” não tem sido camarada nem mesmo com o Papai Noel. O funcionário público Edgard Pinto, de 60 anos, que incorpora o bom velhinho em dezembro, ficou  internado de segunda a sexta-feira da semana passada no pronto-socorro do Hospital do Servidor Público Estadual, em Indianópolis, Zona Sul, sem tomar banho e trocar as peças de roupa em nenhum desses cinco dias. 
 Situação semelhante foi submetida a aposentada Santa Bandeira Moraes, 84, e Edevarde Rodrigues, 62, na última sexta-feira. Os três e mais  dezenas de pacientes da ala de urgência e emergência do hospital, que recebeu no ano passado o selo de referência assistencial aos idosos, só teriam direito a banho e acomodações adequadas quando um leito no setor de internações fosse disponibilizado.  “Já fiquei internado aqui outras vezes, mas nunca passei tanto tempo esperando por uma vaga”, contou Edgard. 
Não é só impressão do Papai Noel. Dados obtidos pelo DIÁRIO, por meio da Lei de Acesso à Informação, provam que conseguir uma vaga de internação no hospital está cada vez mais difícil. A unidade opera hoje com 183 leitos a menos do que há cinco anos (leia mais na página 3).
A situação flagrada pela reportagem na sexta-feira era ainda mais caótica. Não bastasse a espera de uma semana por um quarto para que, enfim, tivesse à sua disposição um chuveiro, não havia toalhas de banho e chinelos suficientes a todos. Depois de conseguir o leito, por volta das 17h,  Edgard teve de se secar com um lençol  e tomar banho descalço.  
Para Santa Bandeira, a desculpa dada para justificar a falta de vaga foi a de os elevadores estarem  parados na manhã de sexta-feira. “Como não consigo andar, não teria como subir pelas escadas”, disse. 
Na metade da tarde, o filho da idosa, o autônomo Márcio Paulo, questionou a equipe de enfermagem sobre o horário que sua mãe iria subir para o primeiro andar, pois os elevadores haviam sido consertados. A resposta dada pelo atendente, no entanto, foi outra: “Ele estava com a relação das pessoas com leitos disponibilizados, mas o nome dela não constava na lista”, contou Márcio.
Lucilene Oliveira