Maurício Pestana participa do Programa Roda Viva do Grupo Acontece

Pestana foi empossado como secretário da Igualdade Racial pelo prefeito Fernando Haddad em junho deste ano. Cartunista conhecido pelos trabalhos no jornal “O Pasquim” e como ex-diretor da revista “Raça”, publicação voltada para o público negro, o escritor e publicitário Maurício Pestana ocupa o cargo deixado em substituição a  Antonio Silva.
Ligado ao Partido Comunista do Brasil (PC do B), Pestana milita há quase 30 anos no movimento negro e tem como missão ampliar as políticas afirmativas adotadas desde a criação da secretaria, em 2013. Além do processo de implementação do ensino da História e Cultura afro-brasileira nas escolas municipais, as políticas para imigrantes haitianos e a ampliação do diálogo com os movimentos da periferia estão entre os principais objetivos da pasta. Depois das apresentações, coube a cada liderança presente no encontro fazer as perguntas ao secretário:  
 Idevanir Arcanjo (Jornalista): Será que o movimento negro chegou ao patamar adequado de dar um espaço real de qualidade para o negro na cidade de São Paulo?  Você não acha que as mídias tem dado muita ênfase para a questão da sexualidade?
Maurício Pestana: Eu acho que sua pergunta é muito importante. Nós temos três tipos de discriminação na sociedade: contra a mulher, contra o negro e contra o homossexual. As mulheres avançaram mais porque elas se uniram e hoje elas ocupam seus espaços com mais facilidade. O grupo LGBT também não tem sido diferente, são eles que escrevem as novelas, eles dirigem os comerciais, enfim, por mais que exista discriminação, de uma certa forma, o LGBT esta inserido também. Já nós negros não. Enquanto mulheres e homossexuais sofrem discriminação, os negros são vítimas do racismo. A maioria dos jovens que morrem nas periferias é negra, a maior falta de emprego está entre o negro, ou seja,  avançamos em alguns aspectos e em outros avançamos pouco.
Carlos Bacelar (Músico): Qual o órgão que negros da periferia devem procurar caso se sintam discriminados? 
Maurício Pestana: Hoje na secretaria temos um Centro de Referência que é um local para atender casos de racismos, discriminação e outros. O papel deste Centro de Referência é encaminhar o caso para os órgãos responsáveis, tais como OAB, Polícia e até para o Ministério Público, se for o caso.  E um dos meus projetos da secretaria é justamente este: criar estes Centros de Referência em vários pontos de nossa Cidade. 
Jadir Nascimento (Funcionário Público): Sou sincero em dizer que em nenhum outro momento a Secretaria de Desigualdade Racial teve uma equipe técnica qualificada assim como a sua. Como você pretende compor a equipe atual?
Maurício Pestana: Esse é o grande entrave. O serviço público vem perdendo profissionais para o setor privado.Temos um período curto de mandato. Vamos compor a equipe da melhor forma possível, através de critérios técnicos.
Romilda Máxima Vilhena (Movimento da Mulher Negra) comentou sobre os problemas da mulher negra e sobre os trabalhos exercidos pelas Associações e Casas de Culturas e questionou se a Secretaria acolherá projetos de capacitação para jovens e mulheres.
Maurício Pestana: Eu acho que essa é a ideia, a Secretaria vai receber as Associações e analisar os projetos e tentar ajudar as Entidades a viabilizarem os melhores projetos. Mas é preciso deixar claro a pouca estrutura que ainda dispomos.
Silmara Galvão (jornalista): Eu acredito que a criança nasce sem preconceito, gostaria de saber se a Secretaria tem alguma cartilha sobre o preconceito racial, algum projeto para ser implantado nas escolas municipais.
Maurício Pestana: O Governo Haddad na questão racial tinha duas metas, uma era a criação da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e a outra era formar professores especializados em história da África e dos afrodescendentes e já estamos providenciando essa formação, preparando professores da rede municipal.
Débora Máxima (líder comunitária): As cotas nas universidades públicas estão permitindo aos negros da periferia se qualificar melhor, mas o profissional qualificado ainda vai demorar um pouco para conquistar o mercado. O senhor tem algum projeto interessante para buscar nas periferias os talentos da comunidade negra?
Maurício Pestana: Quase a metade da população brasileira é de negros, não é possível que nesse universo não encontremos profissionais e talentos. Empresas de grande porte e de tecnologia estão em busca de talentos. A ideia é promover um Fórum de apresentação desses talentos ao mercado público e privado.
Divaldo Rosa (diretor): Falando sobre os “rolezinhos” e sobre a falta de lazer para os jovens da periferia, o que o secretário acha que pode fazer por esses jovens?
Maurício Pestana: O projeto na Secretaria foi positivo, conseguimos diminuir em 70% os conflitos nos “rolezinhos” e nos “pancadões”, negociamos com as lideranças desses grupos e estamos em discussão com outras secretarias, como a Cultura, para podermos estudar e facilitar espaços para esses meninos terem um local adequado para seu lazer.