Fernando Haddad concede entrevista exclusiva aos jornais de bairro


Fernando Haddad se orgulha muito de ser professor universitário e tem horror à demagogia, que qualifica como a “corrupção da política”. Firme em suas convicções, ele diz que “quem não tem coragem de governar, não deveria se arriscar, porque hoje para governar precisa de coragem, que é o que está faltando na vida política”. Mesmo com as dificuldades impostas pelo cenário econômico nacional e internacional, que impuseram um crescimento zero na economia da cidade e uma recessão de 2% no Estado de São Paulo, Haddad se diz otimista na consecução de suas metas de governo. Mais que isso, ele elenca algumas ações efetivas que melhoraram a vida do paulistano, como as faixas exclusivas de ônibus que diminuíram em até 90 minutos o tempo diário das viagens dos ônibus urbanos, durante entrevista que o prefeito concedeu na última quinta 30, para a AJORLESTE e os jornais de bairro da Zona Leste.

Qual o legado que o Plano Diretor Estratégico proporcionará à cidade nos próximos 16 anos?
O Plano Diretor organiza o desenvolvimento urbano em torno dos chamados eixos de mobilidade. Onde tem eixo de mobilidade constrói.
Nos eixos de mobilidade haverá um tamanho máximo de imóveis que poderão ser construídos. Justamente pensando na família moderna, que é uma família mais enxuta, tem muitos desenhos familiares hoje que não existiam 30 anos ou 40 anos atrás. 
Qual a avaliação do Programa Prefeitura no Bairro, quais são os primeiros resultados?
A Prefeitura no Bairro é uma forma de comunicação. É uma maneira de você aproximar as secretarias das subprefeituras. 
Qual a previsão de melhoria no atendimento da saúde para o paulistano?
Os contratos que estão sendo renovados contam com uma cláusula que não existia. Como era feito o contrato com as OSs? Era um contrato com meta. Cumpriu a meta, a pessoa podia parar de atender que ela recebia. Isso foi contestado pelo Tribunal de Contas na administração anterior e nós fizemos um chamamento público para renovar este contrato com uma cláusula garantindo equipes mínimas, cumprindo ou não a meta. Independentemente de cumprir a meta você tem que manter uma equipe de profissionais de saúde no local. Isso está sendo concluído agora.
O jornalista Divaldo Rosa, representando os jornais de São Miguel perguntou sobre as obras do Mini Anel Viário de São Miguel e da Avenida Gualtar em Itaquera, obras fundamentais para melhoria do trânsito das suas regiões.
Sobre a Avenida Gualtar eu não sei dizer por que ainda não foi iniciada a obra, pois eu já mandei fazer. Realmente é uma obra prioritária para os moradores do Vale do Aricanduva  e não vai custar nada para a cidade, pois o Shopping Aricanduva decidiu fazer a obra e doa para a municipalidade. O problema com o CEU Aricanduva já foi solucionado no projeto apresentado pelo shopping com a colocação de uma passarela ligando os dois prédios, portanto não sei por que razão ainda não foi iniciado a obra. Mas prometo me informar e te passar a informação o mais rápido possível. Quanto à obra de São Miguel depois que estive lá na esquina da Imperador com a Pires do Rio ficamos sabendo que ainda não tinha o projeto, então mandamos fazer o projeto e isto leva algum tempo, infelizmente não vai sair tão rapidamente como a população gostaria.
Por que o Corredor da Avenida Celso Garcia não entrou no PAC?
O corredor da Celso Garcia não entrou nos 150 quilômetros do PAC em função do custo das desapropriações. O projeto está pronto, certamente vai acabar sendo feito, não existia nem projeto, mas ali nós vamos ter que fazer uma parceria público-privada, provavelmente para viabilizar a obra. É uma obra muito cara. Então provavelmente vai ser no âmbito de uma operação urbana ou de uma intervenção urbana. Mas não está nos 150 quilômetros que nós licitamos.
A redução de velocidade nas marginais e nas principais avenidas, deixou a cidade mais emperrada?
A redução da velocidade máxima nas vias urbanas é uma tendência internacional. Eu não vou abrir mão dos meus princípios. Nós temos um dos trânsitos mais violentos do mundo. Equivale a uma guerra. Estamos muito longe das cidades mais evoluídas, que estão fazendo um esforço maior do que o de São Paulo para reduzir os acidentes. A vida das pessoas não deveria ser razão de partidarização. O bem estar do ciclista não deveria ser razão de partidarização. A priorização das faixas exclusivas para ônibus não deveria ser razão de partidarização. Se está havendo partidarização em torno disso é por causa de um clima político que está sendo alimentado pela intolerância e pelo ódio e não pelo bom senso e pela generosidade. Existe um conceito em engenharia de trânsito chamado trânsito induzido.
Nunca na história de São Paulo se viu a implantação de tantos radares. Inclusive verdadeiras armadilhas como o da Ponte das Bandeiras. Por que o prefeito se submete a tantas decisões impopulares da CET?
Eu confio muito na CET, acho a melhor Companhia de Engenharia de Tráfego do Brasil. De novo, os críticos estão errados em relação à velocidade das vias.Aquele radar que você se refere na Ponte das Bandeiras é o que garante a fluidez da Marginal. Se você abrir o acesso para os carros ali, você vai perder uma faixa da marginal porque a Santos Dumont não comporta tanto movimento.
Quais são as obras que o senhor ainda pretende realizar na zona leste?
Nós já demos ordem de serviço para construir 15 Upas na cidade, a maior parte na zona leste, 16 UBSs, a maioria na zona leste e norte, porque foi onde a gente conseguiu terreno. Mais ou menos 147 equipamentos de educação, que estão entregues ou em obras, com creche, Emef, Emei, nós vamos universalizar o atendimento, este ano a previsão é de abrir pelo menos 40 mil vagas em creches, entre outras.
E quanto à possibilidade de descentralizar a administração, dando mais força às subprefeituras?
Houve uma recentralização muito forte na administração anterior. Eu não estou convencido de que o problema é descentralizar orçamento. Eu estou convencido de que a gente tem que descentralizar poder, porque às vezes um contrato pode ser centralizado e a gestão do contrato não pode ser. Então a vice-prefeita Nádia Campeão tem liderado um processo em que os subprefeitos e os conselhos participativos, que nós criamos, participam cada vez mais da gestão e do acompanhamento dos contratos da Prefeitura. 
A Prefeitura pretende em algum tempo exercer fiscalização sobre a distribuição de panfletos e jornais nos semáforos da cidade?
Nós estamos com pouco agente vistor nas subprefeituras. Agora eu posso pautar na reunião de subprefeitos essa preocupação. Aqui ocorre desleixo com a limpeza da cidade por parte de alguns cidadãos.
Quando a Prefeitura vai cuidar da iluminação das passarelas?
A iluminação pública quando eu assumi era o primeiro lugar de reclamação no 156. Hoje é o 18º. Agora passarela eu preciso checar. O que a gente iluminou de praça, de centro esportivo, baixo de viaduto. A gente está fazendo aquela iluminação pedonal, que é aquela voltada para a calçada, baixinha. Eu vou pedir para o secretário de Serviços Simão Pedro, para incluir naquele projeto de iluminação pedonal as passarelas. De fato não tenho lembrança de São Paulo ter iluminação em passarela. Não me recordo. É uma bela pauta. As únicas iluminadas que eu lembro são as da Praça da Bandeira, para chegar no Terminal. Nunca foram iluminadas, não é que é uma deficiência. Mas também embeleza, torna a cidade mais bonita, além de mais segura. Boa sugestão. Vou encomendar um estudo.
O senhor vai conseguir cumprir o seu plano de metas?
Nós temos 123 pontos no programa de metas da Prefeitura. Nós esperamos cumprir mais de 100. E são 19 que estão com o sinal amarelo de cumprimento, mas nós vamos deixar tudo muito bem encaminhado. Com eu já falei: nós tivemos uma frustração muito grande com o crescimento econômico do período próximo a zero. Agora, administrador não escolhe tempo bom ou tempo ruim. Se você é administrador, tem que administrar no tempo bom e no ruim e ainda, buscar alternativas. Acho que estamos administrando, em tempos de vacas magras, de maneira muito coerente.
Qual foi a maior dificuldade de sua gestão até agora?
Muito provavelmente nós vamos fechar 2013-2016, o período do meu mandato, com crescimento econômico no Brasil de 0%. Se nós levarmos em consideração o crescimento de 2014, 2015 e 2016, o crescimento médio destes anos provavelmente vai chegar a zero e no estado nós teríamos vivido uma recessão nestes anos, ou seja, crescimento negativo. E com tudo isso, mais suspensão de um ano da planta genérica de valores do IPTU, mais passe livre para estudante, mais redução da tarifa, que custou R$ 1,5 bi em 2013, mais pagamento de precatório, R$ 1,5 bi a mais que o previsto por causa da ação no Supremo Tribunal Federal. Com tudo isso, eu não deixei de encaminhar absolutamente nada. Pode ter prejudicado o cronograma, mas o planejamento da cidade está absolutamente garantido com todos os revezes que nós sofremos de arrecadação. Não é brincadeira ser prefeito com 0% de crescimento. Porque em geral o custeio da cidade toma conta do orçamento. Para você expandir serviços é o crescimento econômico que garante a expansão. Nós conseguimos expandir serviços sem crescimento econômico. Então não foi brincadeira não. E o grande legado nosso vai ser a dívida, porque nós conseguimos renegociar a dívida com a União que vai garantir que as próximas administrações respirem um pouco. Porque a dívida com a União chegou a R$ 80 bilhões. Nós vamos derrubar 40% desta dívida, baixar para menos que R$ 40 bi.