Estúdios de tatuagem colocam saúde de clientes em risco

 Pesquisa realizada pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas aponta ausência de cuidados básicos
de higiene e biossegurança
 Um estudo realizado pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas, unidade da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo referência nacional em doenças infectocontagiosas, aponta que a maioria dos estúdios de tatuagem ebody piercing na capital paulista coloca em risco a saúde de seus clientes, dos próprios profissionais tatuadores e da população como um todo, ao não adotarem cuidados básicos de higiene e biossegurança.
O levantamento mapeou 71 estúdios, e serve como advertência às pessoas que procuram os serviços e os profissionais tatuadores e perfuradores corporais que fazem parte do principal grupo de risco de contaminação por hepatites virais. 
Dentre os profissionais pesquisados, apenas 35% estavam protegidos contra a hepatite B, isto é, tomaram as três doses da vacina necessárias para garantir a imunização contra o vírus.
A enfermeira Clementina Isihi, autora do estudo, afirma que 87% dos profissionais tinham conhecimento do risco de contrair hepatite trabalhando. "Eles sabiam do risco, mas mesmo assim não se preocupam com a saúde deles e nem a dos seus clientes. A vacina é o ponto de partida para a prevenção, mas o principal ímpeto está na falta de cuidado dentro dos estúdios" esclarece.
Notou-se também problemas na utilização da autoclave para esterilização dos materiais. Dos 78% que referiram o uso do aparelho, 64% prepararam de forma incorreta o material antes de alocá-lo no equipamento. "Notei que eles não lavavam o material antes de colocar na autoclave, e isso é um erro grave. O ideal é que o material utilizado fique no mínimo uma hora no equipamento a uma temperatura mínima de 170°C, mas muitos nem tinham o controle de temperatura no aparelho ou não respeitavam o tempo mínimo", afirma a enfermeira.
O estudo apresentou outro dado preocupante: 70% dos profissionais lavaram as mãos antes e depois dos procedimentos sem técnicas adequadas para controle de infecção e 26% não lavaram as mãos. Segundo o infectologista e orientador do estudo, Roberto Focaccia, os riscos de transmissão de doenças em estúdios de tatuagem vão além das hepatites virais. "A lavagem de mão inadequada ou a ausência dela é algo gravíssimo, que aumenta a probabilidade de transmissão de vírus, bactérias e fungos", explica. 
O descarte do material utilizado nos estúdios é outro fator preocupante apontado pela pesquisa. Dos estabelecimentos pesquisados, 83% não solicitam à prefeitura coleta para resíduos sólidos de saúde. Quando isso acontece, todo o material vai parar no lixo comum, colocando em risco a saúde de lixeiros e catadores de materiais recicláveis.
"Apenas 42% dos pesquisados tinham o curso de biossegurança, isso significa que a maioria deles não tem noção básica de cuidados com materiais perfurantes, e colocam em risco não só a saúde deles, como a de toda comunidade", explica Focaccia.
Segundo o especialista, as transmissões mais comuns em estúdios de tatuagem são de hepatite do tipo B e do tipo C. A contaminação da hepatite ocorre através do contato de uma agulha contaminada com a pele e pela reutilização de tinta.
A fiscalização das condições dos estúdios de tatuagem na cidade de São Paulo é realizada pela Vigilância Sanitária Municipal.