Uma falha da Polícia Militar possibilitou que internos da Fundação Casa fugissem durante 15 minutos pulando o muro lateral da unidade de Itaquera, enquanto viaturas da corporação aguardavam na frente do portão dianteiro. Ao todo, 54 adolescentes escaparam, na maior fuga dos últimos cinco anos da instituição - 17 foram recapturados. No mesmo dia, houve um motim em outra unidade, na Vila Leopoldina, na zona oeste.
A rebelião em Itaquera, onde estavam 103 adolescentes, começou por volta do meio-dia de segunda-feira, 12. Os internos participavam de atividades e, mesmo desarmados, fizeram 29 funcionários reféns. Os que ficaram dentro do prédio agrediram os reféns e quebraram objetos. Entre os funcionários sob poder do grupo, estava o diretor da unidade, Orlando Vieira Mendes.
Uma equipe do Grupo de Apoio, da Fundação Casa, conhecido como "choquinho", entrou no prédio. Logo após, começou uma nova fuga. Os adolescentes usaram cadeiras para escalar o muro de seis metros e uma mangueira para quebrar o arame farpado. Para descer, eles utilizaram uma árvore do lado de fora.
Mesmo a 50 metros de onde ocorria a fuga, os policiais ficaram sem impedi-la até serem avisados pela imprensa. Em 15 minutos, a reportagem contabilizou a fuga de 18 internos.
"A segurança da área externa é realizada pela PM. A fundação não tem condições nem atribuições para fazer isso", afirmou o corregedor-geral da fundação, Jadir Pires de Borba. Ele disse também que, naquele momento, os funcionários que estavam dentro do prédio não tinham mais controle da unidade. "No início da fuga, havia policiais no entorno. Mas não sei dizer em que momento esses policiais saíram e deixaram a área sem vigilância", acrescentou. Procurada, a PM afirmou em nota que vai apurar o que aconteceu.
Ao longo da tarde, os reféns foram sendo liberados, eles soltaram o diretor, o último funcionário. Ele foi internado no Hospital Santa Marcelina com um corte na cabeça e escoriações leves pelo corpo. No final da tarde, foi liberado.
A assessoria da fundação informou que não havia informações de mais funcionários ou internos feridos com gravidade. Segundo o corregedor, os funcionários serão ouvidos para saber como começou o problema e se houve falha deles. "Estamos registrando o que danificaram na unidade. Todos serão ouvidos e, a partir daí, poderemos chegar a uma conclusão do que aconteceu", disse.
O primeiro motim começou às 9 horas, na unidade da Vila Leopoldina, onde 12 funcionários foram feitos reféns. Os menores atearam fogo em colchões para bloquear a entrada de funcionários no local, que foi isolada por PMs no lado externo. Representantes da superintendência e da corregedoria da instituição participaram da negociação com os menores.
A assessoria não informou quantos adolescentes participaram da ação - a unidade tem capacidade para 150 internos, mas é ocupada por 100. A fundação investiga se há ligação entre os dois casos.