Desde as fortes chuvas que atingiram o Jardim Romano e a Vila Itaim, moradores das áreas mais afetadas estão tendo de conviver com diversas rachaduras nas casas, que vêm crescendo em tamanho e em número a cada dia. Alguns até abandonaram as casas com medo de que uma tragédia ocorra.
Uma das pessoas que vem convivendo com o risco é a dona de casa Ivone Lurdes. Na residência onde mora, ela conta que os estragos podem ser vistos do lado de fora e em alguns cômodos internos. “A gente vai olhando, fica assustado e com medo de vir abaixo tudo isso em cima da gente”, disse.
Outro morador atingido pela enchente foi o comerciante Carlos que só este ano chegou a ter um prejuízo de cerca de 10 mil reais “todo ano é a mesma coisa, basta chover um pouco que alaga tudo aqui, e quem sofre com isto somos nós moradores. Ficamos tão assustados que basta uma pequena garoa que nós moradores já tiramos os carros e motos e deixamos em um local seguro para não perder nas enchentes, só que muitos aqui chegam a perder tudo dentro de suas casas”, lamenta ele.
Ainda devido às fortes chuvas, uma pessoa foi eletrocutada numa área alagada no Jardim Helena. A Polícia Militar (PM) informou que o acidente ocorreu em uma área energizada em razão da enchente que tomou conta da região. De acordo com o Corpo de Bombeiros, a vítima foi encaminhada à Unidade de Atenção Primária à Saúde Santa Marcelina, no bairro de Itaim Paulista.
Um trecho alagado na Rua Ambua, bairro de Vila Itaim, permaneceu intransitável durante quase um dia todo. Algumas casas foram invadidas pela água e os moradores precisaram suspender os móveis. O alagamento foi provocado pela cheia do Rio Tietê.
A região da subprefeitura de São Miguel Paulista, que inclui o Jardim Helena, Vila Romano e Vila Itaim, entre outros, permanece em estado de alerta, na ocasião foi instalada uma barraca da Defesa Civil com botes e coletes salva vidas para um caso de emergência, sem contar na ambulância que fica localizada logo na entrada da Vila, para possíveis primeiros socorros e até esclarecimentos aos moradores.
Sem esperança de melhora e totalmente frágil com o ocorrido, a moradora Danuza Dias lamenta que todo ano tenha de passar pela mesma situação, “nem sei mais o que dizer e o que fazer, vivemos de promessas, nunca a culpa é de alguém, e nós vamos perdendo as coisas a cada ano, nem vontade de limpar nada eu tenho mais, já perdi cama, fogão, geladeira e guarda roupa, chego a entrar em depressão de tanto desgosto, do que adianta eles (órgãos públicos) só olharem para nós nesta época”, frisa emocionada a dona de casa.
De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), a região faz divisa com o município de Itaquaquecetuba, bairro Jardim Fiorelo, e os seus moradores também estão sofrendo com os alagamentos.
A prefeitura de São Paulo informou, em nota, que o projeto de construção do pôlder (terreno protegido por diques contra inundações) da Vila Itaim é responsabilidade do governo do estado. “Em 2013, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Fernando Haddad estiveram juntos no local e anunciaram as obras do pôlder. Entretanto, até o momento o governo do estado não apresentou o projeto da obra, a despeito de inúmeras reuniões realizadas e de apelos insistentes da Prefeitura.”
A prefeitura afirmou que, sem o projeto, não há como remover as famílias do local. “São duas as razões: primeiro não há como remover toda a população da Vila Itaim. É preciso saber o tamanho e o local do pôlder para remover apenas as famílias atingidas. E, depois, se a população for retirada muito antes da realização das obras, outras famílias ocuparão aquelas habitações”, completa.
O governo do estado respondeu, em nota, que a inundação de hoje na Vila Itaim é resultado da ocupação indevida da várzea do Tietê, área sempre ocupada pelo rio nas cheias. De acordo com o texto, o Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee) firmou convênio com a prefeitura para construção de um sistema de pôlder, com reservatório e bombas, a fim de diminuir os riscos de enchentes. “A obra aguarda o reassentamento, pela prefeitura, de 280 famílias de áreas invadidas. O projeto básico está pronto e foi entregue ao município em 2013. No Jardim Romano, o pôlder feito pelo Daee em operação desde 2011 evitou inundações.”
