Ocupação no Jardim Lapenna aponta o descaso dos órgãos governamentais


Na manhã desta quarta-feira (15), a equipe de reportagem do Grupo Acontece de Jornais e Revista esteve no Jardim Lapenna para averiguar de perto a situação de irregularidade na construção de moradias que em apenas uma semana já pode se ver a construção de mais de 8 casas de concreto e 40 barracos próximos ao córrego Lapenna. 
Após denúncias dos próprios moradores do bairro, nossa equipe foi até o local e constatou o grande medo que tomou conta dos moradores que estão em estado de alerta com as próximas chuvas, que podem causar grande alagamento no bairro. A razão principal de toda essa preocupação é a recente invasão em área que margeia o córrego Lapenna, onde um dos invasores improvisou um aterro e construiu sua casa sob a vala por onde escoava as enxurradas do bairro, colocando uma manilha que poderá  não suportar o volume d'água que desce rumo ao córrego, nos períodos de fortes chuvas. 
Em janeiro de 2011, foram 12 dias de alagamento. No verão do ano passado, como choveu pouco, os moradores tiveram uma trégua. No entanto, o medo que isto ocorra novamente fica estampado nos rostos de cada morador depois desta nova invasão.
"Estamos assustados, pois sabemos as necessidades que passamos, não é fácil comprar nossas coisas e depois perder tudo com a enchente, e agora com essa invasão, ai é que ficamos com mais medo ainda", explica Elizeu Nunes, morador da região. 
Um dos problemas apontados pelos moradores é a falta de comprometimento dos órgãos públicos, pois o bairro vive à margem do poder público, com pouquíssimas melhorias, trazidas graças à força da Sociedade Amigos do Jardim Lapenna, entidade que se dedica à melhoria da qualidade de vida dos moradores do bairro há mais de 30 anos.
 "Nem limpeza dos bueiros e muito menos canalização do córrego"
Sentados à frente do Galpão da Cidadania da Fundação Tide Setubal, vários moradores disseram a nossa reportagem que há mais de 10 anos eles reivindicaram a canalização do Córrego Lapenna. Em 2008, segundo consta em documentos recebidos pela Sociedade Amigos do bairro, o governo do estado, através da Secretaria de Saneamento e Energia, elaborou projeto de prolongamento da rede coletora de esgoto numa extensão de 2 mil metros com previsão de início em 2009. No mesmo documento o governo informa que o Córrego Lapenna havia sido incluído no Programa Córrego Limpo, para realização de limpeza em parceria com a Prefeitura de São Paulo. "Por razões que desconhecemos a obra não foi realizada como prometida, facilitando assim a invasão dessa área a menos de 10 metros do córrego, ou seja, construções em área de grande risco e que trará prejuízos a toda comunidade do Lapenna", concluiu um morador que não quis se identificar.
Sem esboçar contrariedade em relação aos invasores, Narinho, atual presidente da sociedade do Jardim Lapenna, disse que o seu papel como presidente da entidade é buscar melhorias para o conjunto dos moradores. "Eu não tenho poder de fiscalização pois isso é de competência do subprefeito de São Miguel e da diretoria do DAEE, órgão do governo estadual,  que ainda é a proprietária legal da área onde se localiza a Sociedade, a creche municipal, o Galpão da Cidadania da Fundação Tide Setúbal e a UBS, tudo isso a menos de 50 metros da área invadida".
Disse ainda que o subprefeito Eng.Aldo esteve no local invadido recentemente avaliando a situação, mas até hoje não disse o que pretende fazer sobre o assunto.
A moradora Ivone da Silva, da Rua Nordestina, reclama dos problemas das bocas de lobo entupidas com lama parada até a boca. "Já cansei de ir várias vezes na subprefeitura, o mau cheiro é demais, invade minha casa, minhas filhas vivem com fortes dores de cabeça e eu fico em pânico com medo delas pegar dengue, é horrível, alguém precisa fazer algo por nossa região. Não adianta fazer a limpeza superficial e não solucionar o problema de vez. Não dá para viver desta maneira". 
Já o comerciante Nelson Nunes reclama das bocas de lobo com água imunda na rua. 
Dr. Almir dos Reis (rua da feira), se diz indignado com o descaso e a falta de comprometimento da subprefeitura. "Minha família é daqui, moramos há mais de 40 anos, gosto muito deste local, convivemos com todos os moradores, posso dizer que o quintal da nossa casa é a própria rua. Quanto ao problema que temos aqui, isto não vem de hoje, temos insistido na subprefeitura de São Miguel, mas ninguém toma uma providência, eu como cidadão me sinto inferiorizado, me sinto humilhado, pois pagamos nossos impostos regulamente. O que vejo é que a prefeitura é rápida na cobrança, mas no que compete a ela fazer, deixa muito a desejar". 
Genúrio Araújo frisou que foi um dos pioneiros do bairro e viu a região crescer com seus avanços, mas também infelizmente, já presenciou alagamentos em sua região. "Vimos pessoas perderem tudo aqui por causa da chuva, agora com estas casas sendo construídas próximas ao córrego nosso medo aumenta ainda mais, pois sabemos que a chuva vem com tudo aqui, e quem mais sofre são os moradores da rua Serra da Juruoca (lado de cima do Centro Cultural) e da Rua José Gori (rua estreita que termina em frente à creche)". 
Para o Sr.Antonio, morador há 25 anos, "a  maior preocupação é esta invasão porque estão construindo quase dentro do córrego e se já sofremos com as enchentes, imaginamos que  agora vai ficar pior. A única solução que melhoraria a nossa vida aqui  é a canalização deste córrego".
O senhor Tarcisio Francisco também se diz um dos mais antigos moradores da região e sempre lutou junto com a comunidade por um lugar mais urbanizado para se morar. "a situação de hoje está crítica, as ocupações tomaram conta da beirada do córrego, dos fundos da creche. Só falta querer invadir o campo de futebol. Já estamos vivendo uma situação de calamidade pública, tem pessoas dentro dos córregos que estão com a saúde abalada, quando vemos dá vontade de chorar. Estamos desconhecendo quem está mandando em São Paulo, acabaram as autoridades de nossa cidade, só tem autoridade na hora de cobrar os impostos e na hora de pedir votos", esbraveja ele. 
Nossa reportagem tentou falar por telefone com o Procurador do DAEE, responsável pelo Jardim Lapenna, mas não conseguimos encontrá-lo.